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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Interlúdio



Nota:
Eu não gosto de fado. Assumidamente. Gosto do de Coimbra que para mim não é fado... e apesar de alguns trejeitos afadistados esta interpretação do Namoro não a considero fado.
Gosto até muito desta nova interpretação dada pela Lula Pena e Hayden Chisholm.

O "Namoro" é um poema de Viriato Clemente da CRUZ , poeta angolano
nascido em Porto Amboim (Angola), a 25 de Março de 1928 e que morreu em Pequim (China) em 1973. Foi um dos promotores do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, em 1948, e da revista «Mensagem» que se publicou em Luanda.
Alguns dos seus poemas foram musicados e cantados, por autores como Fausto e Rui Mingas.
«Namoro», foi musicado por Fausto e interpretado originalmente por Sérgio Godinho, tendo-se tornado um clássico da Música Popular Portuguesa.
Viriato da Cruz publicou um único livro - «Poemas», editado em 1961 pela Casa dos Estudantes do Império - mas está representado em inúmeras antologias, com destaque para «O Reino de Caliban», dirigido por Manuel Ferreira, cujo volume II reúne toda a sua obra conhecida.

"Namoro"

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim."

4 comentários:

  1. Eu gosto de alguns fados, Madredeus tem alguns belíssimos. A tristeza também deve nos fazer companhia em algum momento da vida.

    O poema musicado 'namoro' é claro que eu não conhecia. Que beleza, Ema! Tão delicado soa aos ouvidos. Obrigada por compartilhar. Beijo sempre sempre carinhoso. =*

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  2. NAMORO


    Há sempre livros possíveis
    Entre nossas mãos
    Um sorriso jovial, um beijo
    Roubado sou quando me lembras
    Distante.


    Podia minha voz sussurrar-te
    A distância transponível
    A minha cabeça entre teu colo?


    Mas há sempre um MAS
    Que a vida tece
    Com as linhas que nos pede emprestadas
    E tu não me escutas, nem eu repouso...


    Por isso, nas horas vagas
    Em que me alinhavo e descoso
    Continuamente visando o mar e as vagas
    Em que vou e venho
    Um rumo me impele, e ouso...

    E sonho...
    ... E tenho.

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  3. Kenia:
    eu também gosto de alguns fados, não sou fundamentalista. não gosto é dos de "faca e alguidar". Mas regra geral o fado deprime-me.
    prefiro as baladas e o fado de Coimbra.Ou o Romances tradicionais Portugueses
    Há trabalhos interessantes ao nível do fado, que erradamente é considerada a música representante da cultura portuguesa... (o fado só apareceu em meados do século XIX e como manifestação muito restrita).

    Beijinho

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  4. J. Maria Castanho:
    Bonito o seu "Namoro".
    Muito obrigada pela partilha.
    abraço

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