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sábado, 31 de julho de 2010

IN MEMORIAM : António Feio


Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

José Gomes Ferreira

7 comentários:

  1. Olá,

    A dupla saudade, pois é com uma muitíssimo grande que faz homenagem a uma outra que se inicia.

    José Gomes Ferreira é uma das figuras que o tal pensamento único que nos sufoca procura ocultar e tão simplesmente para que não persista em perturbar-nos, comos seus poemas em que os lábios têm sabor de morangos e as almas não aceitam a submissão as liames das injustiças, tal como o humor do Feio nos perturbava com as denúncias da chico-espertice que transformaram a via da democracia na cleptocracia em que vivemos e onde os mais pobres e fracos continuam naquela espécie de sub-humanidade que levam a termos que saltar o muro, todos os muros, tal qual fossemos o João Sem Medo com que o Poeta nos fez sonhar na adolescência.

    É bonito o que faz e nós temos gosto em partilhá-lo.

    Haja paz e saúde para si e todo aqueles a quem quer bem

    Luís Gomes

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  2. Olá,

    A dupla saudade, pois é com uma muitíssimo grande que faz homenagem a uma outra que se inicia.

    José Gomes Ferreira é uma das figuras que o tal pensamento único que nos sufoca procura ocultar e tão simplesmente para que não persista em perturbar-nos, comos seus poemas em que os lábios têm sabor de morangos e as almas não aceitam a submissão as liames das injustiças, tal como o humor do Feio nos perturbava com as denúncias da chico-espertice que transformaram a via da democracia na cleptocracia em que vivemos e onde os mais pobres e fracos continuam naquela espécie de sub-humanidade que levam a termos que saltar o muro, todos os muros, tal qual fossemos o João Sem Medo com que o Poeta nos fez sonhar na adolescência.

    É bonito o que faz e nós temos gosto em partilhá-lo.

    Haja paz e saúde para si e todo aqueles a quem quer bem

    Luís Gomes

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  3. "ÉS PÓ...E EM PÓ TE HÁS-DE TORNAR" CUSTA IMENSO ACEITAR...SERIA MUITO BOM MORRER DE OUTRA FORMA...COMO COMPREENDO JOSÉ GOMES FERREIRA...PELO MENOS FICARÍAMOS A CONTEMPLAR MAIS VEZES O CÉU...À PROCURA DESSAS NUVENS QUE TÃO BEM RETRATASTE...E SABERÍAMOS QUE SE TRATARIA DAQUELA PESSOA...ALI MESMO...ALI EM CIMA A OLHAR PARA NÓS CÁ EM BAIXO...E A ACENAR...

    BEIJINHOS

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  4. Como gostaria de me finar assim, desta forma solene e bela, descrita por Gomes Ferreira e despedir-me dos familiares e amigos não com um adeus mas, com um até sempre, até depois.
    É um bonita forma de se encarar a morte.
    A vida, a família, a escola, a sociedade ensina-nos quase tudo o que precisamos de aprender para (sobre)viver. Nada nos ensina sobre a única certeza com que nascemos: um dia morre-se.
    Seria tão mais fácil se aprendessemos esta inelutável verdade.
    Bjs
    Caldeira

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  5. O eufemismo perfeito, Em@...transformar-se em nuvens!

    Realmente , você conseguiu homenagear com brilho duas pessoas ( não as conheço, nenhuma), iluminando o caminho de quem parte e promovendo a trajetória de quem fica.

    Seu blog e esses pássaros fazem bem para a alma da gente.

    Beijos

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  6. Sei que esta minha mensagem não se adequa a este contexto e por isso mesmo peço desculpa.
    Em@, vim retribuir a gentileza da sua visita. É um prazer conhecê-la, ainda que virtualmente. É uma artista de tantas artes! Aqui lhe deixo uma humilde palavra de verdadeira apreciação.

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  7. Eu não gosto de deixar nenhum comentário sem resposta, porque também gosto de sentir feedback ao que escrevo nos outros blogs.
    Peço-vos desculpa por hoje não me dirigir a cada um individualmente, mas acreditem que ainda estou abananada e não tenho cabeça para escrever.
    deixo-vos um beijo e agradeço-vos a vossa visita e comentários.
    ficam em aberto as respostas individuais. amanhã. quem sabe?

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