Decorridos quase dois séculos da carta do cacique indígena Seatle ao Presidente do Estados Unidos, as suas lições permanecem actuais e proféticas, para todos aqueles que sabem ver no fundo do conteúdo de sua mensagem.
A carta do cacique Seatle é uma lição inesgotável de amor à natureza e à vida, que permanece na consciência de milhões de pessoas em todas as partes do mundo. É o hino de todos aqueles que amam a natureza e tudo o que nela vive. A cada leitura, renovamos os ensinamentos que ali estão.
Serve para ler e reler e passar adiante para que todos a conheçam.
A história dos indígenas em cada país onde existiam, antes do homem branco, é diferente nas suas particularidades, mas no seu conteúdo são iguais. Nos Estados Unidos ou no Brasil, os problemas enfrentados pelos indígenas foram os mesmos.
Os indígenas possuem uma sabedoria milenar que precisamos aprender a ouvir.É fundamental que seja preservada a riqueza da sua cultura, as suas danças, ritos, conhecimentos sobre as plantas e os animais e as formas de viver em harmonia com a natureza.
Os índios Duwamish habitavam a região onde se encontra hoje o Estado americano Washington - no extremo Noroeste dos Estados Unidos, na fronteira com o Canadá, logo acima dos Estados de Montana, Idaho e Oregon.
No passado era um "paraiso na Terra", região inspiradora de uma das mais lindas 'poesias' dedicadas à natureza, hoje, ainda sendo bela, não é mais um 'paraiso'. A cidade mais famosa é Seattle (nome dado em homenagem ao Chefe), uma beleza de outro tipo que infelizmente vem gerando graves problemas ecológicos.
Os índios migraram pelo Puget Sound para a Reserva Port Madison. O Chefe Seattle e sua filha estão enterrados lá.
Existem muitas controversias sobre o conteúdo original do discurso. O primeiro registo escrito que se conhece, foi feito no Jornal Seattle Sunday Star em 1887 pelo Dr.Henry Smith, que estava presente no pronunciamento. Ele publicou as suas próprias anotações com comentários sobre o Grande Chefe, que segundo ele, era uma pessoa profundamente impressionante e carismática. Nos anos 70 (1970) foram divulgadas várias versões deste discurso em conexão com movimentos ecológicos e a favor da preservação da natureza; o discurso ficou muito conhecido, quase mitificado, ficando de lado as discussões sobre a sua originalidade. Aqui a tradução portuguesa de uma das mais famosas versões da década de 70, feita a partir da publicação americana original do Dr.Henry Smith-1887.
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é de E.M.Sammis
e o original encontra-se na:
"University of Washington Special Collection
#NA 1511".
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CARTA DO GRANDE CHEFE SEATTLE
“Como pode você comprar ou vender o céu, ou o calor da terra? A ideia é estranha para nós. Se nós não somos donos da frescura do ar e do brilho da água, como pode você comprá-los? Cada parte da Terra é sagrada para o meu povo.
Cada pinha brilhante, cada praia de areia, cada névoa nas florestas escuras, cada insecto transparente zumbindo, é sagrado na memória e na experiência de meu povo.
A energia que flui pelas árvores traz consigo a memória e a experiência do meu povo.
A energia que flui pelas árvores traz consigo as memórias do pele-vermelha.
Os mortos do homem branco esquecem-se da sua pátria quando vão caminhar entre as estrelas. Os nossos mortos nunca se esquecem desta bela Terra, pois ela é a mãe do pele-vermelha.
Somos parte da Terra e ela é parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, os cervos, o cavalo, a grande águia, esses são nossos irmãos. Os picos rochosos, as seivas nas campinas, o calor do corpo do pónei e o homem, todos pertencem à mesma família.
Assim, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que quer comprar a nossa terra, ele pede muito de nós.
O Grande Chefe manda dizer que nos reservará um lugar onde poderemos viver confortavelmente.
Ele será o nosso pai e nós seremos os seus filhos. Vamos então considerar a sua oferta de comprar a terra, mas não vai ser fácil, pois esta terra é sagrada para nós.
A água brilhante que se move nos riachos e rios não é simplesmente água, mas o sangue dos nossos ancestrais. Se vendermos a terra para vocês, devem-se lembrar de que ela é o sangue sagrado dos nossos ancestrais. Se nós vendermos a terra para vocês, devem-se lembrar de que ela é sagrada e devem ensinar aos vossos filhos que ela é sagrada e que cada reflexo do além na água clara dos lagos, fala de coisas da vida de meu povo.
O murmúrio da água é a voz do pai de meu pai. Os rios nossos irmãos saciam a nossa sede. Os rios levam as nossas canoas e alimentam as nossas crianças.
Se vendermos a nossa terra para vocês, devem lembrar-se de ensinar aos vossos filhos que os rios são irmãos nossos e vossos e consequentemente devem ter para com os rios o mesmo carinho que têm para com os vossos irmãos. Nós sabemos que o homem branco não entende as nossas maneiras. Para ele um pedaço de terra é igual a outro, pois ele é um estranho que chega à noite e tira da terra tudo o que precisa. A Terra não é sua irmã, mas o seu inimigo e quando ele o vence, segue em frente. Ele deixa para trás os túmulos dos seus pais e não se importa. Ele sequestra a Terra dos seus filhos e não se importa.
O túmulo do seu pai e o direito de primogenitura dos seus filhos são esquecidos. Ele ameaça a sua mãe, a Terra e o seu irmão, do mesmo modo, como coisas que comprou, roubou, vendeu como carneiros ou contas brilhantes. O seu apetite devorará a Terra e deixará atrás de si apenas um deserto. Não sei. As nossas maneiras são diferentes das vossas. A visão das vossas cidades aflige os olhos do pele-vermelha. Mas talvez seja porque o pele-vermelha é selvagem e não entende.
Não existe lugar tranquilo nas cidades do homem branco. Não há onde se possa escutar o abrir das folhas na primavera, ou o ruído das asas de um insecto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não entendo. A confusão parece servir apenas para insultar os ouvidos. E o que é a vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de um curiango ou as conversas dos sapos, à noite, em volta de uma lagoa. Sou um pele-vermelha e não entendo.
O índio prefere o som macio do vento lançando-se sobre a face do lago, e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o pele-vermelha, pois todas as coisas compartilham o mesmo hálito – a fera, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo hálito. O homem branco parece não perceber o ar que respira. Como um moribundo há dias esperando a morte, ele é insensível ao mau cheiro.
Mas se vendermos a nossa terra, devem lembrar-se de que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha os seus espíritos com toda a vida que ele sustenta.
Mas se vendermos a nossa terra, vocês devem mantê-la separada e sagrada, como um lugar onde mesmo o homem branco pode ir para sentir o vento que é adoçado pelas flores da campina.
Assim, vamos considerar a vossa oferta de comprar a nossa terra. Se resolvermos aceitar, eu imporei uma condição – o homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e não entendo de outra forma. Vi mil búfalos apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os matou da janela de um combóio que passava.
Sou um selvagem e não entendo como o cavalo de ferro que fuma se pode tornar mais importante do que o búfalo, que nós só matamos para ficarmos vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria
de uma grande solidão de espírito. Pois tudo o que acontece aos animais, logo acontece ao homem. Todas as coisas estão ligadas.
Vocês devem ensinar aos vossos filhos que o chão sob os seus pés é as cinzas dos nossos avós.
Para que eles respeitem a terra, digam aos vossos filhos que a Terra é rica com as vidas dos nossos parentes. Ensinem aos vossos filhos o que nós ensinamos aos nossos, que a Terra é nossa mãe.
Tudo o que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra. Se os homens cospem no chão, eles cospem em si mesmos.
Isto, nós sabemos – a Terra não pertence ao homem – o homem pertence à Terra. Isto, nós sabemos. Todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Todas as coisas estão ligadas.
Tudo o que acontece à Terra – acontece aos filhos da Terra. O homem não teceu a teia da vida – ele é meramente um fio dela. O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus anda e fala com ele como de amigo para amigo, não pode ficar isento do nosso destino comum.
Podemos ser irmãos, afinal de contas. Veremos. Uma coisa nós sabemos, que o homem branco pode um dia descobrir – o nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar agora que vocês O possuem, como desejam possuir a nossa terra, mas vocês não podem fazê-lo. Ele é Deus do homem, e a Sua compaixão é igual, tanto para com o pele-vermelha como para com o branco.
A Terra é preciosa para Ele e danificar a Terra é acumular desprezo por seu criador. Os brancos também passarão, talvez antes de todas as outras tribos.
Mas no seu desaparecimento vocês brilharão com intensidade, queimados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por algum propósito especial lhes deu domínio sobre ela e sobre o pele-vermelha.
Esse destino é um mistério para nós, pois não entendemos quando os búfalos são mortos, os cavalos selvagens são domados, os recantos secretos da floresta carregados pelo cheiro de muitos homens e a vista das montanhas maduras manchadas por fios que falam.
Onde está o bosque? Acabou.
Onde está a águia? Acabou.
O fim da vida e o começo da sobrevivência.”
Nota:
Rebloguei daqui.
Muitos thankiús, Miguel Loureiro. :D
Em@, desculpa a correcção mas faltam-te uns "tês" por aí em Seattle. :P
ResponderEliminarShame on meeeeeeeeeeee :S
ResponderEliminarno problem, Elenáro, tu sabes que eu (ou o teclado) como mesmo letras. Já está emendado nos 2 títulos. havia +?
besito e muitos thankiús
Tenho no blog, lá mais atrás.
ResponderEliminarPara ser lida com atenção e convicção!
Beijinho de chicoronha.
Dudú:
ResponderEliminaré tão actual e diz tantas verdades que a repetição nunca é demais.as pessoas são muito esquecidas.
beijinho de chicoronha
Brilhante!!!
ResponderEliminarNão conhecia e adorei.
Jinho bruxelente!
ainda bem que gostaste, minha parecêra de bruxedes!
ResponderEliminarporque num aparece a tua carinha laroca ali no códradinho?
beijo bruxelente
Ema
ResponderEliminarDe nada... Este é das coisas mais belas sobre a natureza e a terra, chamado Poema Ecológico. Já o conheço há mais de 30 anos (sou quase do tempo do Chefe Seattle) e até já o vi apropriado por um escritor muito conhecido...
Vale a pena ler e fazer alguma coisa pela, tão gratuitamente usada, SUSTENTABILIDADE...
Eu também já a conheço há muito tempo,mas não sou do tempo do Chefe Seattle eheheh, nem quase, tinha-a no outro pc que foi ao ar...deixa-me adivinhar o dito cujo chama-se Coelho de sobrenome?
ResponderEliminarAcertaste!
ResponderEliminarahahahah. tenho 3 livros dele e digo-te, que não percebo como tem tantos(as) fãs...e outros tão bons....não vendem livros.
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